terça-feira, 6 de agosto de 2013

- Acho lindo seu nome!
-Obrigada, também gosto muito dele.
-Me fale de você !
- Hum... falar exatamente o que?
- O que quiser.
(nessa hora ela já sentiu arrependimento pelo início da conversa, entre preguiça e cansaço de pensar sobre si mesma, coisa que esmiúça a mente o dia inteiro)
-Bem, sou alguém uma pessoa simples (poxa, coisa mais clichê, e evasiva, deveria ter dado algo mais objetivo e cortado o a possibilidade de aprofundamento, pensou ela)
-Simples como?
(Eu sabia, merda!)
-Simples pow, simples sem frescura, de boa, na paz..
-Ah, sei. E o que mais?
- Ah, acho que isso. ( pronto é hora de mudar de assunto)
-Então, e você curte escrever também?
- Não, só gosto de ler.
- Hum... e ler o que?
-Ah, de tudo um pouco, romances, contos, poesias, crônicas... coisas que me chamem atenção
- Ah, legal.
(...)
-Você escreve há muito tempo?
- Sim, não sei dizer desde quando.
- E por que?
-Por que o que?
- Por que você escreve?
-Porque preciso.
-Precisa ?? Trabalho??
-Não vida.

...

Se ela não contivesse tanto a torneira que deseja na verdade abrir e deixar desaguar o mundo, a conversa teria sido outra...

-Acho lindo seu nome!
-É eu também. Nome de avó, de mulher forte, me remete à poesia, não queria ter outro.
-Me fale de você!
- Eu? Sou uma pessoa que não sei lidar com o mundo, e que ao mesmo tempo que isso me assusta e angustia, me dá sede e paixão. Sou alguém que preciso me reafirmar que sou eu todos os dias, se não esqueço e mudo, viro um reflexo meu de outra dimensão sem raízes nem certezas de nada.Vivo a surpresa do susto cotidiano de estar aqui, vivendo, perdida, sem saber de nada, absolutamente, me espantando com a força do tédio, e do porvir. Me doo diariamente as vezes muito, o tempo todo, as vezes menos e até pouquinho, mas sempre está lá. A dor. Sou alguém que tem esperanças sem ter esperanças, é a esquizofrenia de querer acreditar mesmo não acreditando, sabe como é? Como a música da Legião "...Mas tão certo quanto o erro de ser um barco à motor e insistir em usar os remos..." Pois é. Procuro perspectivas de beleza a todo instante em tudo, só a beleza tem me salvo, só a beleza resgata em mim essa espécie de chama que me lembra que estou aqui. Gosto de gente, mas não sei se gosto mesmo de mim, não sei o que isso significa, não sei como se mede esse auto amor, não se matar seria uma forma de amar? A quem? Querer viver momentos de alegria? Isso é se amar? O que se é preciso fazer para saber que se ama? Quais caminhos, quais atitudes? As vezes espero um tapa na minha cara da vida, acho que preciso, para acordar, para sofrer, ou para parar de sofrer não sei, só sinto que preciso daqueles que ficam os cinco dedos na face marcados, por horas... Acho que queria ser salva , mas não sei de que, não quero perder minha dor, ela me deixa viva, angaria belezas que me tocam. Será que sou masoquista? Não sei, acho que é porque nunca soube viver de outra maneira, quando não há isso, não há nada. Olha, tive receio de tocar na palavra dor, agora, isso é tão triste, tão preconceituoso de minha parte, então vou repetir, " quando não há dor, não há nada". Não vou marginalizar o que sinto, não posso. Assumo o peso da palavra mas não desprezo a delicadeza , porque sim, é delicado, é uma forma de sentir os mundos, de dentro e de fora da gente, e não pode ser ignorado. Não sei lidar com ela, é fato mas não vou desistir, sem ela perco muito, com ela também perco, apenas quero saber viver. Porque sem dor alguma, a vida me parece ainda mais sem sentido.
...
- Sim, mas fale-me de você, curte escrever também?
- Desculpa tenho que sair. Xau.

Um comentário:

  1. Encontros nos dão a possibilidade de ver no outro parte de nós e permitir que nos vejam como um espelho, nos ensinam a observar o outro e são uma ótima maneira de exercitar a generosidade. As pessoas vivem se esbarrando por aí, provocando faíscas. As relações humanas são sempre, na melhor das hipóteses, o breve iluminar dessas faíscas. Quase todos evitam a deliciosas explosões que acontecem quando estamos dispostos a nos encontrar.

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